“Consideramos justa toda forma de amor” – Lulu Santos
Frequentemente confunde-se poliamor com amor livre, relacionamento aberto, swing, poligamia e “ficada”. Cinco práticas diferentes, porém vistas por muitos como parte do mesmo conceito. Segue a descrição de cada um desses termos e as suas principais diferenças em relação ao poliamor.
É importante ressaltar que as definições abaixo servem apenas como pequena parte da base inicial para o entendimento das relações afetivas, que, é claro, nem sempre se encaixam perfeitamente em apenas uma categoria.
Amor Livre
Surgiu como uma forma de embate à legislação das uniões amorosas. Seus seguidores acreditam que a igreja e o Estado não têm o direito de definir o que deve ou não ser considerado um relacionamento amoroso. Eles são contra o casamento, pois o vêem como forma de controle e submissão. O Amor Livre defende e pratica todo tipo de relação amorosa – inclusive a monogâmica – não atrelada a quaisquer registros formais. Ou seja, pessoas que se relacionam sem intitular-se “namorados” ou “casados”.
Dentre todos os estilos, o relacionamento livre é o que mais se aproxima do relacionamento poli, já que ambos dão grande flexibilidade afetiva e sexual à formatação das relações. No entanto, o poliamor não se preocupa tanto com o distanciamento de rótulos, que é uma característica fundamental do amor livre. Portanto, são movimentos distintos.
Relacionamento Aberto
Acreditam que desejos sexuais por outras pessoas procedem mesmo durante um relacionamento fixo e que reprimi-los pode gerar estresse entre o casal. Defendem a monogamia afetiva em parceria com a liberdade sexual. Portanto, relações extraconjugais não são consideradas como infidelidade, contato que não haja envolvimento amoroso; este deve existir apenas entre o casal. “Liberamos o desejo, não o sentimento”, diz um adepto. É importante ressaltar que o relacionamento aberto costuma funcionar melhor quando há regras bem definidas e consentidas por ambos para evitar desentendimentos.
Em contrapartida, poliamoristas são a favor da liberdade amorosa, além da sexual. Cada parceiro poliamoroso pode nutrir quantos namoros e/ou casamentos ele quiser – independentes ou conjuntos.
Swing
Refere-se à troca sexual de parceiros entre dois casais. Seus praticantes geralmente buscam se livrar da monotonia que tanto atormenta a maioria dos casais de longa data. O swing é quando dois casais se encontram ocasionalmente para trocar de parceiros em busca de diversificar o sexo, não havendo trocas romântico-afetivas. Diferente do relacionamento aberto, a prática do swing nunca acontece separadamente e exige concordância prévia entre os parceiros. Ou seja, os amantes não podem se encontrar a sós com mais alguém. Quando isso acontece, considera-se traição e, conseqüentemente, gera discórdia entre o casal. Por conta disso, os swingers são considerados monogâmicos.
No poliamor, os parceiros não buscam por casais. Cada um pode ter quantas relações afetivas quiser independente do outro. Além disso, aqui sexo não é objetivo como acontece entre swingers, sim conseqüência.
Poligamia
Teve início com a desproporção numérica entre homens e mulheres ocasionada pelas guerras, o que favoreceu o patriarcado. Décadas mais tarde, tornou-se popular a associação entre o conceito de poligamia e poliginia, no entanto, a poligamia também pode ocorrer entre mulheres, recebendo o nome de poliandria. A poligamia é uma forma de casamento comumente associada à religião mulçumana e reconhecida pela legislação de mais de 50 países, onde a população segue os ensinamentos do Alcorão – livro sagrado dos mulçumanos – que permite ao homem ter até 4 esposas, com a condição de que dê atenção igual a cada uma delas.
Tanto a poliginia, quanto a poliandria remetem a uma prática unilateral, em que apenas um dos sexos tem o direito de nutrir mais de um parceiro. Já o poliamor, além de não ter associações religiosas, é sempre bilateral porque defende o direito à liberdade de ambos. Ou seja, todos os parceiros podem amar e se relacionar com mais de uma pessoa. Ocasionalmente, um homem ou uma mulher pode ter mais de uma relação, enquanto o outro tem apenas a ele ou ela. No entanto, se é conservada a liberdade mútua para seguir novas escolhas, a prática não deixa de se caracterizar como poliamor.
Além de tudo, o significado de poligamia está muito mais atrelado ao ato do casamento do que à afetividade entre seus participantes. Casar com várias mulheres ou vários homens não significa necessariamente nutrir sentimentos por todos eles. Afinal, casamento nunca foi sinônimo de amor. A poligamia pode acontecer, também, como mera fidelidade a determinados padrões culturais religiosos; mera formalidade. Por outro lado, o poliamor é motivado apenas pela afetividade múltipa e tem formato fluido, portanto é uma pratica livre de padrões e incentivos religiosos.
“Ficar”
“Começou nos anos 80 entre os adolescentes, e consiste em trocas de caricias que vão dos beijos e abraços até alguma coisa mais, geralmente sem chegar ao ato sexual. O ‘ficar’ dispensa qualquer tipo de conhecimento prévio e qualquer tipo de continuidade (…) é uma forma não compromissada de relacionamento afetivo, no qual não há pressuposto de fidelidade/exclusividade”, diz Regina Navarro em A Cama na Varanda.
O poliamor, assim como o “ficar”, não exige exclusividade. Porém, há uma diferença discrepante entre os dois: enquanto “ficantes” não sentem amor ou qualquer senso de compromisso um pelo outro, poliamores se desenvolvem emocionalmente da mesma forma que um namoro comum fechado – só que aberto. Tanto o poliamor quanto o mono crescem por meio de uma ligação sentimental profunda. Amor, compromisso, responsabilidade e sinceridade são algumas das características essenciais entre policasais e dispensáveis entre ficantes.
Outra grande diferença entre poliamar e “ficar” é que o “ficante” deixa seu parceiro livre por não amá-lo ainda, e o poliamorista da liberdade a seus amantes justamente por amá-los.
– Fernanda Fahel